Depois de décadas bebendo social-democracia, com várias faxinas acanhadas e feitas mal e parcamente, o Estado transformou-se em um bêbado forçado a cuidar de um gigantesco imóvel, chamado Brasil, aos pandarecos, carecendo de uma super-reforma, de uma obra que só deixe de pé fundações, pilares e algumas lajes e vigas da estrutura, seguidas de cuidadosa desratização, dedetização e arrumação institucional. Essa necessidade jamais foi tão necessária como agora e sua urgência é tamanha que nos permite ser categóricos: é agora ou nunca, ou, em linguagem popular, ou vai ou racha.
Mar. 2021 - A INVASÃO DA POLÍTICA NAS NOSSAS VIDAS
Artigo do Mês - Ano XX– Nº 227 – Março de 2021
Vivemos tempos em que praticamente tudo em nossa vida é politizado. É sabido que esse fenômeno não é novo, pois começou há pouco mais de cem anos, mas vem se intensificando de maneira assustadora em nossos dias. Não é que eu defenda uma negação completa da política, irreal e imatura, somente penso que não é correto e chega a ser quimérico e infantil acreditar que ela tenha soluções para todos os nossos problemas e para os problemas ditos “sociais”.
Toda sociedade pode ser observada, segundo uma perspectiva de longa distância, como se estivéssemos bem no alto, na janela de um avião, olhando para baixo. Nesse caso, enxergaríamos os contornos de três grandes sistemas, exatamente os que compõem a sociedade, que são o sistema político, o econômico e o ético-moral-cultural. Veríamos, de longe, no sistema político, as relações políticas, as formas de governo e as instituições; na economia, os mercados e as instituições que estão por trás deles, as regulamentações, as fazendas e indústrias. Mas o terceiro sistema - o ético, moral e cultural - parece ser o mais complexo e escondido dos três e nem sempre se consegue visualizá-lo facilmente do alto.
Esse último sistema constitui-se de um permanente processo evolutivo (uma ordem espontânea, na nomenclatura de Hayek), abrangendo todas as manifestações religiosas, associativas, artísticas e culturais, como, por exemplo, o longo processo de desenvolvimento da nossa música popular, desde a época das modinhas e lundus até o samba primitivo, o frevo, o samba-canção, a bossa nova e a (péssima) música brasileira contemporânea, ou como no cinema e teatro, observando como eram os filmes e as peças antigamente e como são hoje. Na base disso tudo, durante séculos, existiu um sistema ético e moral tradicional, que - claro - deve se modernizar, mas que não pode ser abandonado, simplesmente porque aquilo que era moralmente errado no século II ou no século XII dC deve continuar sendo errado no século XXI. Assaltar uma pessoa era errado, no Império Romano, no Brasil imperial e é errado em qualquer época e lugar. Onde estou querendo chegar? O que quero dizer com isso? Ora, simplesmente, que cada um dos três sistemas tem a sua maneira de funcionar, tem as suas leis, tem as suas características que os levam a operar independentemente, mas ao mesmo tempo, existe uma interdependência muito forte entre eles. E quero enfatizar que para que uma sociedade seja sadia os sistemas político e econômico precisam necessariamente subordinar-se às regras de boa ética e moral.
A IMPORTÂNCIA DOS VALORES ÉTICOS E MORAIS NA ECONOMIA
Artigo do Mês - Ano XX– Nº 226 – Fevereiro de 2021
(Artigo transcrito diretamente de um vídeo curto que postei no Instagram, daí o seu tom coloquial)
A ética não deve se restringir aos atos econômicos, mas a tudo o que fazemos na vida. Para compreender essa afirmação é importante ter em vista que o homem já nasce com uma destinação transcendental e, diante da grandeza dessa transcendência, permanece um tempo muito curto aqui nesse mundo. Então, tudo que nós fazemos deve ser voltado para esse fato metafísico e por isso é importante prestar atenção na importância dos valores éticos e morais.
Um ato econômico pode ser classificado, do ponto de vista ético ou moral, ou ambos, como um ato bom, um ato neutro ou um ato mau, ou seja, como certo, neutro ou moralmente errado. Um ato bom ou certo, por exemplo, é comprar leite em pó e distribuir entre pessoas necessitadas, que não têm dinheiro para comprar leite. Um ato errado seria comprar ou vender uma droga qualquer em uma boca de fumo. E um ato neutro é, por exemplo, comprar uma camisa nova, um relógio, um livro, uma estátua, vender um sapato, uma caneta, um sofá para alguém, etc.
A maioria dos atos econômicos pode ser classificada como moralmente neutros. Acontece que a economia, a ciência econômica, é aética, isto quer dizer, ela não se orienta por valores éticos, não tem epistemologicamente preocupações de natureza ética, de natureza moral. Embora saibamos que a economia de mercado, do ponto de vista moral, seja superior a qualquer outro tipo de economia controlada pelo Estado, este é outro assunto, a ser estudado em cursos de sistemas econômicos comparativos. Mas, sendo a ciência econômica aética, é evidente que os mercados que fazem parte da economia, também são aéticos. E do ponto de vista da Escola Austríaca e dos economistas liberais - não aqueles “liberais com aspas”, mas os sem aspas e com vergonha -, os mercados funcionam sempre. Só que eles podem funcionar para o bem ou para o mal ou podem não influenciar sob o ponto de vista de fazer o bem ou fazer o mal, simplesmente podem ser neutros.
Jan 2021 - CINCO FATOS SOBRE A NATUREZA DO ESTADO
Artigo do Mês - Ano XX– Nº 225 – Janeiro de 2021
Desde que o homem descobriu a possibilidade de viver em sociedade, percebeu que se via obrigatoriamente diante de um dilema: usando a metáfora de Homero, deveria oscilar entre o Scyllas do isolamento, que lhe garantia liberdade total, embora incompatível com a divisão do trabalho e, por isso, limitador do progresso, e o Caribdes da vida em grupo, que lhe restringia a liberdade, mas gerava incontestáveis benefícios, proporcionais à sua capacidade e determinação. A fórmula encontrada para conciliar o dilema foi criar uma espécie de acordo ou consenso comunitário, que implicasse cessão de parte da sua liberdade, em troca de garantias aos direitos individuais básicos, para que os mais fortes, inteligentes, capazes e perspicazes não dominassem os mais fracos, néscios, incapazes e broncos, o que resultaria na concentração do poder em mãos de poucos.
Esta é, em síntese, a origem do Estado e de seu braço executivo, o governo: com a finalidade de evitar que alguém, ou que algum grupo, se transformasse em opressor dos demais, a sociedade passa a aceitar a existência de um ente teoricamente neutro, equidistante e preocupado em zelar pelos interesses de todos, pelo bem comum dos cidadãos. Belas palavras, sem dúvida, e muitas pessoas acham muito bonito descrever esse acordo tácito como contrato social. Porém, se você se der ao trabalho de pesquisar na internet em todos os cartórios, duvido que encontre esse documento escrito, com assinaturas e firmas reconhecidas.
Conquanto a maneira de conciliar o dilema referido sempre tenha existido, a hipertrofia que o Estado experimentou, especialmente a partir do século XX, fez com que ele, que nascera para prevenir um mal - o da concentração de poder nas mãos de meia dúzia de indivíduos - acabasse produzindo outro, maior, o da concentração de poder - político, econômico e cultural -, em suas
2021: REFORMAR OU QUEBRAR

Dez. 2020 - DÍVIDA “HISTÓRICA”: UMA RETÓRICA ALEGÓRICA
Artigo do Mês - Ano XIX– Nº 224 – Dezembro de 2020
Suponha que no ano de 1870 o seu bisavô tenha tomado um empréstimo do trisavô de Zeca e que, por algum motivo, tenha falecido sem pagar a dívida. Suponha também que Zeca esteja agora lhe cobrando aquele débito. Considere, ainda, que ele se ache no direito de exigir-lhe indenização, não apenas para ele, mas para todos os indivíduos do grupo a que ele pertence, mesmo aqueles cujos ancestrais nem conheceram seu trisavô. Por fim, imagine que Zeca jogue na sua cara que você tem obrigação de ressarci-lo e aos companheiros porque, “historicamente”, deve a todos. Não seria uma bizarrice, um disparate?
Porém, segundo a retórica fantasmagórica da dívida “histórica”, todos os brancos, descendentes ou não de antigos proprietários de escravos, seriam corresponsáveis pela escravização de negros que existiu por quase 400 anos no Brasil e, portanto - por uma lógica no mínimo esquisita - todos os brancos vivos estariam em débito com todos os descendentes de africanos, inclusive os que não descendem de escravos, a quem devem “indenizar” por meio de políticas ditas “afirmativas”, como as cotas raciais.
A INDEPENDÊNCIA DO BANCO CENTRAL

Teoricamente, existem três mecanismos para neutralizar ou minimizar os ataques de gatos à vasilha monetária: a autonomia ou “independência” dos bancos centrais, o regime do padrão-ouro e a supressão do monopólio estatal sobre a moeda, com o estímulo à competição entre diversas moedas dentro do país. Por razões de geopolítica e de teorias econômicas imperfeitas, a partir da 1ª Guerra Mundial o padrão-ouro começou sistematicamente a ser abandonado, até ser extinto em 15 de agosto de 1971. A competição entre moedas, ao menos por ora, está fora de cogitação. Assim, resta apenas a primeira alternativa. Mas o que vem a ser um banco central autônomo?
A ideia é que o banco seja uma autarquia especial, no mesmo nível dos ministérios, sem subordinar-se, portanto, a nenhum deles, e com razoável autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira, sujeito tão somente às normas que regem os demais sistemas da administração federal. O argumento é que, assim resguardado de ingerências políticas, o Banco Central ganha credibilidade com os investidores nacionais e estrangeiros, pela expectativa de que poderá garantir a estabilidade da moeda e a segurança do sistema financeiro indispensáveis para a saúde da economia, bem como para reduzir o risco-país, contribuindo para atrair capitais externos.
Nov. 2020 - ELEIÇÕES AMERICANAS: “FRAUDE” EXPLICA?
Artigo do Mês - Ano XIX– Nº 223 – Novembro de 2020
Não se tratou, para os americanos, de simplesmente escolher entre um conservador fanfarrão, de cabelo alaranjado e delicado como um rinoceronte e um tio “progressista”, bolinador contumaz e devoto piedoso do deus Morfeu. O buraco, senhores, foi bem mais embaixo: preservar a velha alma americana dos Founding Fathers, que rapidamente transformou treze colônias pobres na maior potência do mundo ou embarcar em uma aventura socialista, justamente no país que sempre foi exemplo de antítese a todos os coletivismos?
Bastam-nos três sapatas para suportar essa afirmativa: a da economia, a da cultura e a da política externa. Na economia, as duas propostas são semelhantes, especialmente no que diz respeito à política monetária frouxa, à manipulação da taxa de juros pelo Federal Reserve e ao protecionismo. O desacordo está na paixão doentia dos democratas por impostos, regulamentações e sistema de saúde estatal.
Nos outros campos, porém, as divergências são fortíssimas. No sistema moral-cultural, o cotejo é entre a tradição judaico-cristã da civilização ocidental defendida pelos republicanos e a feira livre dos democratas: globalismo, governo mundial, imposição de uma nova ordem, de uma religião única, de hábitos alimentares e sexuais, relativismo moral, intolerância com a tradição, divisões raciais, controle da linguagem e da vida das pessoas, desrespeito à individualidade, centralização, culto ao estado e concentração de poder em um grupo de illuminati. Teoria conspiratória? Não, é só uma questão de não tomar lé por cré. Ou não é essa a pauta dos democratas, cujo “enviado especial” no momento é Joe Biden?
A mídia mundial finge que não sabe, mas a verdade é que as bases dos Democrats vêm se afastando de seu cariz original - de centro com leve tendência à esquerda - e fazendo o semblante do partido ficar cada vez mais socialista. Se antes apenas flertavam, hoje vivem um concubinato ostensivo com o populismo socialista, iniciado por Bill e Hillary e intensificado com Obama, sob os aplausos de Hollywood, da Big Tech, da Big Media e dos “especialistas”.
Já vão muito longe os protestos pacíficos de 1968, que introduziram na sociedade americana, além dos hippies, as pautas de esquerda: liberdade sexual, tolerância a drogas, desconstrução da família, ideologia de gênero, anticristianismo, crescimento do estado, feminismo, antissemitismo, ambientalismo, cotas raciais e outras. Aquele romantismo, olhado pela perspectiva de 2020, parece ingênuo como uma criança. Sim, com o tempo, foi dando lugar à militância ideológica, à intolerância e, mais recentemente, à violência e atos terroristas. O Woodstock de 2020 não tem cabeludos com faixas de love and peace, mas agasalha os baderneiros do black lives matter e antifas; não tem decibéis de guitarras, mas endossa os coquetéis molotov atirados em supostos “supremacistas” e “fascistas”; não tem as metralhadoras da guerra do Vietnã cantadas por Gianni Morandi, mas abriga bombas bem mais perigosas, com petardos que não ferem o corpo, mas adoecem as mentes e borram as almas.
A IRRACIONALIDADE DOS GASTOS PÚBLICOS
O orçamento público, um fruto da tradição liberal clássica, é seguramente o mais antigo instrumento de que os governos dispõem para organizar seus recursos financeiros, controlar gastos e receitas e executar ações em conformidade com suas prioridades e programas. Em tempos modernos, entretanto, os orçamentos têm extrapolado sua intenção original e incorporado novas finalidades e instrumentalidades alocativas, distributivas e estabilizadoras, passando de simples e indispensáveis ferramentas de controle a intrincados instrumentos impositivos de uma “justiça social” etérea por definição.
O resultado desse avanço dos “engenheiros sociais” tem sido desastroso para o equilíbrio indispensável das contas públicas, não somente no Brasil, mas também em países mais desenvolvidos. Nestes, no entanto, ainda existe certa racionalidade orçamentária, absolutamente inexistente aqui, onde perto de 96% das despesas da União são obrigatórias, o que impõe ao governo federal uma margem de apenas 4% para gastar conforme suas prioridades.
Out. 2020 - QUANDO PRA BAIXO NEM OS SANTOS AJUDAM
Artigo do Mês - Ano XIX– Nº 222 – Outubro de 2020
Há mais de três décadas os economistas de boa formação vêm alertando para a necessidade de uma faxina no setor público, para reformas estruturais com vistas a diminuir gastos da União, estados e municípios. Por volta dos anos 80 eles eram poucos, lembrando São João Batista pregando em um deserto de ideias e eram tachados de radicais, conservadores, antiprogressistas, elitistas e outros adjetivos do gênero. Depois, seu número foi aumentando lentamente, até que hoje - em parte, infelizmente, devido aos estragos provocados pelo lockdown, que esbugalharam o estado lamentável das contas do governo federal e dos entes federativos -, essa necessidade é consensual na profissão e só aqueles economistas com parafusos frouxos em suas cabeças, os ultraprogressistas, ainda têm o desplante, ou melhor, a cara de pau de negar a urgência de mexer nas estruturas obscuras do Leviatã.
No entanto, apesar dessa necessidade ser tão óbvia e não obstante a vitória nas urnas, em nível federal, de um programa marcantemente liberal, que enfatizava a importância das reformas, decorrida quase a metade do mandato presidencial e com o mesmo ministro da Economia, os progressos obtidos foram tímidos, aliás, bastante tímidos, em relação ao que se esperava, tanto por parte dos eleitores, como por parte da equipe econômica e do próprio presidente: é verdade que a “lei da liberdade econômica” foi uma realização positiva, mas os cortes de despesas públicas continuam resistindo com valentia, poucas empresas estatais foram privatizadas, a reforma da previdência que os políticos deixaram vingar foi bem acanhada, a tributária jogada para frente, a administrativa empacada, etc.
A CRISE E AS EMERGÊNCIAS PERMANENTES
Calamidades e situações de emergência sempre serviram de pretexto para políticos astutos com índole de ditador minarem as salvaguardas das liberdades individuais, geralmente amparados em suportes pretensamente científicos de economistas argutos com gênios controladores. Esse aviso de Hayek, escrito há muitos anos, poucas vezes foi tão apropriado como neste ano, em que o misterioso vírus de Wuhan se alastrou pelo planeta e provocou enormes pressões para o Estado tomar as rédeas dos costumes e o bridão da economia, com vistas a impor controles, ordens, proibições e punições de todos os tipos.
Precisamos ter cuidado nessas horas, para que a capacidade louvável de reconhecer um problema antes que se torne uma emergência não se transforme em manuseio político do que já não é mais uma premência, prolongando propositadamente o problema para obter benefícios permanentes, como se a essência de qualquer situação emergencial não fosse, por definição, a transitoriedade.
Ao alertar sobre a ameaça à liberdade que representa o uso com fins políticos de situações de desespero, o filósofo e economista austríaco Friedrich Hayek (1899-1992) tinha em mente, entre outros alvos, os chamados programas sociais, que encarava como estacionamentos de altíssima rotatividade, para ser utilizados apenas enquanto uma necessidade real os justificasse. Porém, a verdade factual é que nada parece ser mais agradável aos políticos do que abraços e desejos de longa vida para esses programas, porque costumam render muitos votos sem impor os desgastes normalmente exigidos pelas ações de erradicação das verdadeiras causas do desespero.
BRASIL, UM PUGILISTA QUE NÃO VAI A NOCAUTE
O avião vai lentamente se afastando do terminal de passageiros, em direção à cabeceira da pista. Dali, seu comandante, impávido, aguardará a ordem de decolar o colosso. O céu naquele momento é formoso, risonho e límpido, convidando ao voo, cujo destino é o Brasil do futuro, que todos os passageiros e tripulantes fantasiam há muitas décadas como a era em que os negócios prosperam, os objetivos se concretizam e a própria felicidade floresce.
Passa, porém, o tempo e a torre não emite a ordem. Durante a longa espera, há momentos em que todos a bordo parecem sentir, pelo barulho mais forte do motor, que a hora de alçar voo finalmente chegou, mas em seguida a intensidade e o volume do ronco caem até que a cabine emite o temido aviso de que o voo foi cancelado e todos terão de desembarcar. É como se a história, que todos ali se preparavam esperançosamente para passar a limpo no futuro, se recusasse a fazê-lo e o amanhã sorridente tivesse sido engolido, sem ser vivido, pelo ontem sisudo, reforçando a sensação falsa de que o passado é apenas um futuro de segunda mão, usado, cheio de garranchos e encontrável no brechó que cada um tem no cérebro.
Quem de nós ainda não sentiu essa inquietação, essa angústia de que somos passageiros de um avião que sempre aparenta estar pronto para decolar, mas que é obrigado a refugar, porque lá da torre os controladores — nossas instituições políticas, econômicas, morais e culturais — parecem que se comprazem no prazer mórbido de adiar a autorização?
Set. 2020 - LEBRES, TARTARUGAS, PARAFUSOS FROUXOS E O CONTO DO VIGÁRIO DA “EMERGÊNCIA DEFINITIVA”
Artigo do Mês - Ano XIX– Nº 221 – Setembro de 2020
Emergências sempre foram excelentes pretextos para erodir as salvaguardas da liberdade individual. Esse aviso feito por Hayek há muitos anos tornou-se bastante atual, com as pressões enormes, da parte de políticos astutos e de economistas com parafusos frouxos, para que o estado tome as rédeas da economia e afunde o pé no acelerador da máquina, em resposta aos efeitos devastadores da pandemia.
Todos conhecem a fábula atribuída a Esopo e recontada por La Fontaine, em que a lebre, sabendo-se mais rápida, desafia a tartaruga para uma corrida que acaba perdendo por excesso de confiança, já que, resolvendo dormir, não se dá conta de que a oponente aproxima-se perigosamente da linha de chegada. Quando acorda, assusta-se e começa a correr o mais depressa que pode, tentando a todo o custo, mas sem êxito, ultrapassar a adversária. Um velho e belo exemplo para as crianças, de exaltação à perseverança e de condenação da petulância.
Sempre que se configura algum contratempo relevante na economia, ressurgem narrativas fantásticas desse tipo, que demonstram incrível falta de conhecimento de como as coisas funcionam no mundo econômico: os surrados argumentos segundo os quais é melhor combater crises do porte da atual com a criação emergencial de demanda por parte do governo, na crença de que a oferta vai acompanhar esse crescimento e, assim, a economia vai sair do purgatório e ir direto para o céu.
Esse passe de mágica parece supor que a tartaruga – a oferta -, sabidamente mais lenta, desafie a lebre – a demanda –, reconhecidamente mais veloz e que não dorme, e sempre saia vencedora, como na fábula.
É óbvio que o objetivo de todos é o crescimento sustentado, caracterizado por um aumento contínuo da capacidade produtiva ou oferta. Ora, mas não se pode desconhecer que esse é necessariamente um processo de longo prazo, porque requer, primeiro, formação de poupança; segundo, transformação dessa poupança em investimentos e, por fim, um longo período de maturação dos projetos, até que se transformem em estoque efetivo de capital e, portanto, em produtos – mais bens e serviços nos mercados. Em outras palavras, a oferta é gigantescamente lenta por sua própria natureza. E tende a ser ainda mais vagarosa em um país em que são necessários meses para se obter autorização para abrir empresas, as cargas tributária e previdenciária são punitivas para o empreendedorismo e para a geração de empregos e as mudanças nas regras do jogo são frequentes.
POR QUE É BOM QUE EXISTAM CADA VEZ MAIS BILIONÁRIOS

Ele tem 49 anos, nasceu em Pretória, tem tripla nacionalidade (sul-africana, canadense e norte-americana) e, desde 17 de agosto, é a quarta pessoa mais rica do mundo, com patrimônio estimado, de acordo com a Bloomberg, em US$ 95,2 bilhões. É Elon Musk, fundador, CEO e CTO da SpaceX, CEO da Tesla Motors, vice-presidente da OpenAI, fundador e CEO da Neuralink e cofundador e presidente da SolarCity, e sua fortuna agora só é inferior às de Jeff Bezos, da Amazon (US$ 194 bi), Bill Gates, da Microsoft (US$ 122 bi), e Mark Zuckerberg, do Facebook (US$ 102 bi).
Notícias assim costumam provocar coices, como o desferido em janeiro deste ano pelos “progressistas” da Oxfam, antes da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos: “O 1% mais rico do mundo tem mais do que o dobro da riqueza do resto da humanidade combinada”. Daí segue-se o conhecido clamor para que os governos adotem políticas contra as “desigualdades”.
OS JUROS BAIXOS E OS BANCÕES

O mundo vive uma conjuntura de taxas de juros extremamente baixas, políticas monetárias assustadoramente expansionistas e políticas fiscais desenfreadamente intervencionistas. A justificativa, para lá de conveniente, é o vírus chinês. No Brasil, no dia 5 deste mês, oito indivíduos — conhecidos na intimidade como “Copom” —, em decisão unânime, reduziram a taxa básica de juros (Selic) de 2,25% para 2% ao ano. É a menor taxa em 21 anos, desde que o regime de metas de inflação foi adotado. Foi o nono corte seguido e o quarto desde agosto de 2019. A nova taxa de juros real (a diferença entre a Selic e a taxa de inflação) está agora na casa de –0,71% ao ano. Sim, uma taxa de juros negativa. Significa que, caso o investidor bote o dinheiro na poupança, em um ano, considerando a inflação do período, sairá no prejuízo. Nossa taxa de juros, que já era uma das menores do mundo, ficou ainda mais perto da liderança no campeonato disputado pelos bancos centrais para ver qual “estimula” mais a economia.
Taxas de juros baixas, sem dúvida, gozam da simpatia de apresentadores de telejornais, políticos, torcedores de todos os clubes e até de certos economistas que seguem teorias aprendidas em livros de ficção econômica adotados em suas universidades de origem. Quem ainda não viu cenas como essas? Um popular, na passarela sobre a linha do trem: “Que bom, agora posso trocar a geladeira!”. O gerente da loja que fica ali perto: “Vou vender mais!”. A moça no telejornal: “Quando o governo diminui a taxa de juros, o investimento aumenta e a economia volta a crescer”. O “especialista” da TV a cabo: “Finalmente, o governo retomou a agenda da prosperidade”. Não é verdade? Acresça-se a essa inclinação por juros baixos — que beira a tara — o incentivo de que, em tempos pandêmicos, tudo parece ser motivo para os governos soltarem as rédeas e aquecerem a demanda.
O MONSTRO ESTADO E A ECONOMIA INFORMAL

Jorge está pensando em abrir um pequeno negócio, que ele estima ter potencial para gerar uma renda anual de $100. Mora no subúrbio de uma capital, é um cidadão correto e deseja legalizar a empresa. Contudo, para atender a todas as exigências da versão moderna da Hidra de Lerna — o monstro mitológico de cabeças regeneráveis e automultiplicáveis em que o Estado moderno se transformou —, além das despesas de registro, terá de desembolsar $40 todos os anos em taxas, impostos e outras tungadas do ogro estatal.
De início, surge uma dúvida: será que o governo alocará esse montante mais eficientemente do que Jorge o fará, caso este decida que é mais compensador não registrar a empresa e usar os $40, por exemplo, para abrir uma filial em outro bairro, que lhe renderia mais $100 todos os anos e geraria empregos para dois ou três balconistas? Quem pode garantir que o Estado não vai destinar os $40 que tomará de Jorge para um fundo partidário, remunerar os seguranças de um ex-presidente condenado em três instâncias ou pagar lagostas a ministros? Não será melhor para ele e para os balconistas e suas famílias — e menos desrespeitoso com todos os pagadores de impostos — que o negócio não seja legalizado? Quem, nesse caso, fere a ética, a clandestinidade de Jorge ou a prodigalidade do Estado com o dinheiro dos outros?
VOVÔ ESTAVA CERTO: NÃO GASTE TUDO O QUE VOCÊ GANHA!

Há princípios econômicos que, mesmo triviais e consagrados por usos e costumes milenares, são desprezados por muitos cidadãos, entre os quais economistas que padecem de um misterioso distúrbio crônico, o de marcar qualquer verdade incômoda, por mais elementar que seja, com o carimbo de “dogma”, “simplismo” e “velharia”, que precisa de rediscussão e refinamento. Tal patologia explica o surgimento, de tempos em tempos, de teorias relativistas rocambolescas, que se esforçam na musculação para transformar periquitos em pavões, aves mais afeitas ao exibicionismo de seus proponentes.
A pandemia trouxe de volta certos seres que já se podem avistar gargalhando como hienas, prevendo o fim do liberalismo econômico. O Brasil não pode mais perder tempo com essas ideias. Não podemos permitir que políticos em geral e economistas heterodoxos, hoje na oposição, mas que já contribuíram com mérito e louvor para afundar o país, transformem as despesas transitórias, que a União será obrigada a engolir, em orgia fiscal permanente. O verdadeiro “desenvolvimentismo” é dizer não a todos eles.
A ESTUPIDEZ DE TRIBUTAR FORTUNAS

Aignorância econômica no Brasil tem “estabilidade” no emprego: passado arraigado, presente turbinado e futuro aprumado. De maneira recorrente, o desconhecimento crônico das causas da riqueza e da pobreza revela-se esparramado eternamente em rede esplêndida, palco de paixões por falsos teoremas, excitantes maridanças entre a ignorância e a inveja e renovadas juras de amor eterno entre o obscurantismo e o despeito. Eis algumas dessas mônadas alheias à razão, em que P e R podem ser pessoas, regiões, países, etnias ou gêneros: (1) P é pobre porque R é rico; (2) se P é pobre e honesto, é porque R é rico e desonesto; (3) o somatório das pobrezas é igual à riqueza; e (4) a “justiça social” consiste em tirar de R e entregar a P.
Políticos populistas costumam garimpar votos estimulando os potenciais eleitores — geralmente pessoas ingênuas, humildes e de caráter reto — a crer que impostos sobre os “ricos” é algo “socialmente justo” e bom para o país. É uma visão míope, que não leva em conta o fato óbvio de que a exploração é só uma das causas possíveis de desigualdades, assim como o acesso à educação e à saúde, a dedicação ou a preguiça, a inteligência ou a estupidez, as boas ou as más instituições e até mesmo a sorte ou o azar na vida. Os adeptos dessas falácias tomam a explicação que lhes é conveniente e ignoram todas as demais, com vistas a impor experimentos de engenharia social com a vida, a propriedade e a liberdade alheias.
ESCREVA CEM VEZES: IMPRIMIR DINHEIRO, NÃO!

Henrique Meirelles, o atual secretário de Fazenda e Planejamento de João Doria, ex-ministro da Fazenda de Temer e ex-presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos petistas, deu uma declaração que, embora eu prefira acreditar ser apenas política, vem provocando polêmica entre os que se preocupam com a economia.
Segundo ele, é hora de o governo federal aumentar fortemente suas despesas para conter os impactos do novo coronavírus na saúde e na economia. Até aí, nada substancialmente diferente do que boa parte dos economistas vem dizendo. Com efeito, em situações emergenciais e inéditas como a provocada pelo vírus chinês, mesmo liberais como o economista e filósofo austríaco Friedrich Hayek (1889-1992) aceitam que o governo socorra os mais necessitados, mas sob a condição de que o socorro seja transitório.
A polêmica surge quando Meirelles afirma que “isso deve ser feito inclusive com a criação de moeda pelo Banco Central e com a captação de recursos pelo Tesouro Nacional por meio da emissão de dívida”. E ganha tintas carregadas quando acrescenta que a retração da economia será tão forte que não existe risco de inflação caso a autoridade monetária até mesmo emita moeda para o pagamento, entre outras medidas, do auxílio emergencial de 600 reais concedido aos brasileiros de baixa renda durante pelo menos três meses. Em suas palavras: “O Banco Central tem grande espaço para expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e, com isso, recompor a economia. Não há nenhum risco de inflação nessa situação”.
O SOCORRO ERRADO

Desde a inacreditável e asquerosa sopa de morcegos até este momento, a peste que veio do leste já se estendeu a mais de 150 países e a cinco continentes, infectou mais de 450 mil pessoas e interrompeu perto de 21 mil vidas. Não bastasse isso, vem ameaçando fulminar a economia mundial.
É costume exigir dos governos soluções para as grandes crises, porque os indivíduos, paradoxalmente, embora não gostem dos políticos, acreditam que os governos têm sempre boas intenções e que podem fazer mágicas na economia para conduzir todos ao Éden. Esses truques consistem em inflar a demanda, pela imposição de uma verdadeira olimpíada de estímulos. A saber: qual banco central é mais rápido em martelar artificialmente a taxa de juros para baixo, que governo arremessa mais longe os seus gastos, quem é melhor em despejar moeda sem lastro — medida conhecida como “helicopter money”, a distribuição de dinheiro à população a fundo perdido.
Ago. 2020 - HEIN? “EDITAR” A SOCIEDADE? COMO ASSIM?
Artigo do Mês - Ano XIX– Nº 220 – Agosto de 2020
De uns tempos para cá vêm provocando perplexidade inquietante certos atos e declarações de alguns habitantes do Olimpo, aquele edifício de arquitetura moderna, bem ali na Praça dos Três Poderes, que tem na frente de sua fachada a estátua de Alfredo Ceschiatti – A Justiça – vazia de beleza, para o meu gosto um tanto arredio ao concretismo –, representada por uma mulher sentada, com os olhos vendados, com uma espada apoiada sobre as coxas e, intrigantemente, sem portar a balança da justiça que se espera deva trazer sempre consigo e, para maior espanto meu, com o pé esquerdo apoiado no chão, mas à frente do direito. Sim, pode ser coincidência, eu sei, mas é porque gosto de procurar pormenores em obras de arte e também porque, segundo rumores que circulam nos corredores do Google, Ceschiatti demitiu-se da Universidade de Brasília, onde lecionava escultura e desenho, em solidariedade a colegas esquerdistas envolvidos em problemas com o governo da época por razões políticas.
Mas vamos ao que interessa? Uma das insólitas atitudes das supremas onipotências deu-se no final de julho, quando o presidente da corte suprema, como em uma erupção de sarampo ou catapora, revelou marcas assustadoras de autoritarismo, ao proclamar - e quem tem ouvidos para ouvir ouviu e quem tem olhos para ver viu - que enxerga aquela corte como editora da opinião de todos os brasileiros. O que isso significa?
Ora, a origem da palavra “editor” vem do latim edĭtio, que é o ato de trazer a público, entregar e que vem, por sua vez, de ex (para fora) e de edere (produzir, levar ao conhecimento). Um editor, então, é alguém que publica, ou corrige, ou adapta algo de acordo com certas regras e normas. O editor de um programa de rádio ou televisão ou de um jornal ou revista, portanto, é o jornalista responsável pela edição do programa, livro ou texto, com liberdade para formatar e alterar a matéria e fazer os ajustes finais, para que a mesma obedeça a normas e padrões estabelecidos pelo órgão responsável por ela.
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